9 de novembro de 2012

Dois Rios

















Dois Rios
Tatiana Salem Levy
Tinta-da-China
16,20€
****

É difícil adivinhar como estaria a ser a vida de alguém que parou agora para ler a Time Out se por acaso não tivesse decidido parar agora para ler a Time Out. Chamemos-lhe escolhas, destino, reflexão sem interesse ou seguimos a elaborar em direcção ao efeito borboleta, mas é um pensamento que ocorre uma vez por outra e que pode ser aplicado a cada segundo.
Aqui, esse segundo é o momento em que Marie Ange, uma francesa, decide ou não embarcar num avião para o Rio de Janeiro. É essa a escolha que nos divide a narrativa. E podiam ser apenas esses os dois rios a inspirar o título do livro: o rio que seria o rumo da sua vida e dos outros em seu redor caso tomasse uma decisão, e o rio que seria caso tomasse a outra. Podiam ser, se aqui os dois rios não significassem muito mais.
São desde logo o nome de uma pequena vila no Brasil, uma ilha quase abandonada onde já existiu uma prisão para prisioneiros políticos e uma infância feliz com banhos de mar e estrelas, e onde hoje só existem memórias a precisar de solução. E são também Joana e Antônio, os dois irmãos gémeos que se encontram, a um tempo ou outro, com Maria Ange, mas que na verdade, com efeito borboleta ou sem ele, caminham apenas para se encontrar um com o outro. Porque haja ou não haja uma mãe obsessivo-compulsiva a ouvir “Ne Me Quitte Pas” em loop, há fios da memória que nunca deixam de nos entrelaçar e são esses que são aqui tecidos na perfeição, com todos os ‘ses’, pesos do passado e saudades em forma de apego a que têm direito.

(Texto publicado na Time Out Lisboa Nº265)

Sem comentários:

Enviar um comentário