Dois Rios
Tatiana Salem Levy
Tinta-da-China
16,20€
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É difícil adivinhar como estaria a ser a vida de alguém que
parou agora para ler a Time Out se por acaso não tivesse decidido parar agora
para ler a Time Out. Chamemos-lhe escolhas, destino, reflexão sem interesse ou
seguimos a elaborar em direcção ao efeito borboleta, mas é um pensamento que
ocorre uma vez por outra e que pode ser aplicado a cada segundo.
Aqui, esse segundo é o momento em que Marie Ange, uma
francesa, decide ou não embarcar num avião para o Rio de Janeiro. É essa a
escolha que nos divide a narrativa. E podiam ser apenas esses os dois rios a
inspirar o título do livro: o rio que seria o rumo da sua vida e dos outros em
seu redor caso tomasse uma decisão, e o rio que seria caso tomasse a outra.
Podiam ser, se aqui os dois rios não significassem muito mais.
São desde logo o nome de uma pequena vila no Brasil, uma
ilha quase abandonada onde já existiu uma prisão para prisioneiros políticos e
uma infância feliz com banhos de mar e estrelas, e onde hoje só existem
memórias a precisar de solução. E são também Joana e Antônio, os dois irmãos gémeos
que se encontram, a um tempo ou outro, com Maria Ange, mas que na verdade, com
efeito borboleta ou sem ele, caminham apenas para se encontrar um com o outro.
Porque haja ou não haja uma mãe obsessivo-compulsiva a ouvir “Ne Me Quitte Pas”
em loop, há fios da memória que nunca
deixam de nos entrelaçar e são esses que são aqui tecidos na perfeição, com
todos os ‘ses’, pesos do passado e saudades em forma de apego a que têm
direito.
(Texto publicado na Time Out Lisboa Nº265)
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