30 de abril de 2013

Querido, temos de falar.

É curioso como ponho no livro uma carga masculina e depois espero dele o inverso do que normalmente espero de um homem. Meu querido: dá-me trabalho, irrita-me, não te dês assim às boas, e nunca nunca nunca me dês razão.

Só não digo "faz-me suar" porque isso já não teria nada de inverso.

(A propósito da leitura de "Em Parte Incerta", de Gillian Flynn.)

22 de abril de 2013

Muito além da tramp'urbana. Perdão: Taprobana.

"E que, pelo menos, não se fique a pensar que Taprobana é nome de avó antiga: Dona Taprobana, Ti Maria Taprobana. Não. Antes que sejam sugeridos outros delírios, é importante que fique assente: Taprobana era o antigo nome da ilha de Ceilão, metaforicamente significava o fim do mundo. Para explicação mais detalhada, é favor consultar a internet."
Excerto da versão de José Luís Peixoto de Os Lusíadas, Canto I, todas as semanas com a Visão.

Eu sou do Benfica.
Sei o que significa não esperar grande coisa de um canto.
Mas isto dá todo um novo significado à acção de não esperar grande coisa de um canto.

19 de abril de 2013

Só eu é que acho estranho haver um prémio DST?

Mas parabéns ao Jacinto Lucas Pires. Espero que este seja o único tipo de DST que ele tenha de enfrentar na vida. E eu até li (e gostei muito muito) "O Verdadeiro Actor" sem contrair nenhum tipo de doença, ardor ou comichão em zonas sensíveis.

10 de abril de 2013

Engano





Engano
Philip Roth
D. Quixote
16,90€
****
Enquanto somos pequenos há sempre aquele rapaz matulão, mais velho e mais esperto, que convence os outros a ir caçar gambozinos. Fica a assistir de camarote enquanto os outros procuram com esmero aquilo que nunca vão encontrar, mesmo que pelo caminho encontrem outras coisas mais interessantes. Com Engano, Philip Roth é esse rapaz, e todos os leitores se convertem em caçadores no vazio.
A caçada começa por ser frustrante. Só há diálogo, nem uma única narração, com saltos no tempo, saltos nas situações. Até se entrar no ritmo, a tentação é voltar muitas vezes atrás para tentar descobrir quem disse o quê. Só depois percebemos que isso não interessa. Percebemos que nem aquela situação de adultério evidente na história é o mais importante. É a caçada que nos move, a nós e a ele, Philip Roth, num engano com um sentido mais do que duplo.
Se é um Philip escritor que está ali a conversar com a sua amante, é isto uma autobiografia? É o escritor apaixonado pela personagem? É uma ficção que se assume como ficção só para esconder uma verdade ou não há verdade nenhuma? O livro lança as pistas. É também o livro que faz questão de expor os seus ingredientes ‘Rothianos’ para despistar: as questões judaicas, o mau trato das figuras femininas, a escrita seca e afiada. Mas o homem que nos põe a todos a caçar entidades inexistentes afinal está só a divertir-se com os limites da ficção, a manobrar na sombra um jogo inteligente e corajoso que deixa de fora todos os que desistirem antes de tempo. E chegar ao fim sem ter caçado o gambozino é o melhor troféu de caça que nos podia ser oferecido. 

(Texto publicado na Time Out Lisboa Nº283)

8 de abril de 2013

A verdadeira luta contra o capital.

Os outros retiram-se da política e vão gerir grandes empresas.
O Louçã retira-se e vai escrever BD.

(Lançamento do livro "Isto é um Assalto", de Francisco Louçã e Mariana Mortágua, com ilustrações de Nuno Saraiva, esta quarta-feira às 18.30 na Bertrand do Picoas Plaza)